sexta-feira, agosto 03, 2007

 

Opinião

A Minha Terra - 7

A minha terra tem dois amo-res, duas paixões: a imitação e a educação ambiental. Estas paixões movem-se no plano das intenções, na esfera do platónico, nunca chegando a concretizar-se fisicamente, carnalmente, com resultados palpáveis… ou tangíveis, para aqueles que preferem a arte musical à habilidade da palpação.
Por definição contemporânea, a educação deve ter como objectivo o desenvolvimento do espírito crítico e da criatividade e, se for ambiental, o gosto pela preservação dos espaços. A imitação não é mais do que a expressão do seguidismo e da obediência cega a um determinado modelo. Mas, embora contraditórias, estas duas paixões servem igualmente (o amor tem razões que a razão desconhece) para atingimento (a expressão é da Ministra da Educação, D.R nº 40, II série, página 4989) dos mesmos fins, ou seja, a formatação do indivíduo (terapia do choque tecnológico), a fabricação massiva e amestrada da opinião pública, a domesticação do cidadão.
E faz-se de tal modo que, se alguém vier a provar, em "comunicado social" largamente difundido pelo Poder, que as rotundas são um testemunho da comodidade, da segurança e da modernidade (porque toda a união europeia aposta nesta engenharia da serventia comunicativa e a Europa é sempre o exemplo a seguir para o que convém), lá vai o Zé elaborar "estudos de viabilidade" ou "planos de pormenor" por engenheiros conceituados, de inegável qualidade, diplomados em Novas Oportunidades, se possível por professores acusados de corrupção. Por imitação, plasmou-se o acordo de Bolonha nas listas de prioridades e, ainda por imitação das alegadas vantagens que o Poder da Europa diz ter com tal esbanjamento de recursos, lá vai o Zé inaugurar meia dúzia dessas rotundas, onde quer que faça falta dar feno à malta.
Ora, a título de exemplo, que servirá, entre tantos, para provar o que se diz, passeando pela minha terra, pude apreciar a beleza, a perfeição estética da localização, a comodidade e a segurança daquela rotunda, na estrada que vai desta minha terra, passa por Covelães e liga, no cruzamento da Mourela, Pitões a Tourém. Mete-se o veículo em direcção a esta última povoação como quem pensa em "vê se te apanho", vira-se para as origens, no sentido de Portugal e descamba-se para a direita (que é o que se tem vindo a fazer, por pacto inédito), em direcção a Pitões.
Isto é que é desenvolvimento! Criatividade, senhores! Educação, senhores! A simbiose entre a Segurança e a Beleza! O perfeito casamento entre os dois amores, o da contínua imitação bufa e o da criatividade educativa! E é também, ninguém o duvide, o efeito de uma pedagogia e demagogia cada vez mais orientadas para a preservação do ambiente natural, do statu quo, da manutenção na aposta da continuidade: o obscurantismo da razão, a cegueira da rapidez de execução exigida em momentos próximos de eleições, a parolice e a inércia que mantêm o Poder. É preciso que quem venha visitar a minha terra tenha ideia da capacidade criativa deste povo, na figura dos seus governantes, despejando carradas de alcatrão para as eleições, levantando-as para iniciar o saneamento em Covelães e atirando-as para a berma da estrada, talvez para servir de monumento visível por todos os emigrantes, quando chegarem àquela estrada que leva à serra da Mourela.
O grande Afonso Henriques, mais amante de conquistas e de caçadas (a Educação para ele era isso), ainda não pensava, e também não precisava de pensar, neste tipo de preservação natural. Limitava o seu estudo à ideia de dever alargar o seu poder de controlo e os territórios dos infanções. Se ninguém sabia escrever, bastava-lhe o fio da espada que não conhecia outra linguagem senão a da força e a do sangue. Talvez até ele pressentisse que havia muito tempo para cultivar a Língua Portuguesa, pois o desastre de que ele, o grande Ibn Hanrik, foi vítima, em Badajoz, viria a servir talvez de motivação dos governantes vindouros, quase 900 anos mais tarde… para a divulgação e a aprendizagem do Português "desde a maternidade", nestas paragens de Sua Majestade, o rei vizinho.
Esta ideia majestática e Burgonhosa do que se entendia por educação, associada à conquista dos territórios infiéis, não é muito diferente da que, nos tempos actuais, se vem associando à imitação parola do progresso.
Contudo, como se verá no próximo número, a actividade educativa, na minha terra, graças aos dirigentes que temos, tomou um novo rumo, enveredando pela aposta fortíssima na vertente da educação ambiental e conservação do património natural, nomeadamente, de certas espécies em vias de extinção.
Por MBM

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