terça-feira, junho 12, 2007

 

Opinião

O Professor de Sezelhe - XI
Amor ao Trabalho
Criou Deus o primeiro homem igual a Si, em semelhança, e concedeu-lhe os poderes de senhor do universo, mediante certas restrições.
Ele que deveria ser para as gerações futuras exemplo de obediência e gratidão para com Deus seu Criador, foi o primeiro ingrato e desobediente a Suas leis! Grande devia ser o castigo para tão graves culpas!
A proscrição do paraíso terrestre e o trabalho, foram as penas que deus impôs ao primeiro criminoso! É pois o trabalho uma expiação da culpa original legada de geração em geração. Esta pena imposta por Deus, não podia ser só um castigo; é uma necessidade.
Sem trabalho era impossível o mundo como está organizado. O trabalho é o equilíbrio da sociedade, e a sociedade existe porque trabalha.
O trabalho é uma escola de dedicação como de justiça. O homem, para sustentar-se, deve servir os outros homens; é necessário que produza alguma coisa, quer para o seu bem estar e o da sua família, quer para a satisfação de cada um. É, como já disse, uma das mais sábias leis da Providência a que determina que o homem, para viver, precisa ser útil.
O operário deve pensar tanto no interesse daqueles para quem trabalha, como no seu próprio interesse; e procedendo assim eleva-se aos olhos de todos e engrandece-se. O trabalho torna nobre e santifica as ocupações mais humildes.
O trabalho é tão útil ao homem como a ociosidade lhe é prejudicial. Mais vale trabalhar do que chorar. A fadiga do trabalho que nos dá o pão é mais suave do que são as lágrimas que o ocioso ou mandrião derrama, por não ter nada, e que nenhuma recompensa oferecem.
Com trabalho, inteligência e economia, só é pobre quem não quer ser rico.
A fome espreita a casa do homem que trabalha, mas não se atreve a entrar-lhe a porta...
A preguiça abre as portas à miséria.
(Continua...)
Por Dias Vieira

 

Opinião

A Minha Terra - 4

Desde há milhares de anos, a morte é comummente aceite como a separação da alma e do corpo. Partindo desta convicção, direi então, necessariamente, que a Minha Terra morreu.
A sua alma esvoaça nas Alturas, procurando o sustento para o sonho de uma vida melhor, há trinta e três anos adiada, enquanto o seu corpo apodrece entre a Lama da Missa e os restolhos queimados e as poulas abandonadas da Senhora do Monte.
A Minha Terra nada produz e tudo consome. Vive de esmolas, de pilhagens e de expedientes fortuitos, tal como vivia, há tantos anos, aquele condenado à forca, que, à hora da morte confessou o crime que a miséria moral e a incompreensão social o levou a cometer, junto à ermida daquela Senhora:
"de tantas mortes que eu fiz,
só duma levo paixão,
de matar um inocente
c’ um punhal no coração".
Morreu!
Com a morte da terra e da sua gente, que agora demanda o Santo Graal do emprego nas terras de Sua Majestade, morrem também os valores como a coragem, a sinceridade, a solidariedade, a simplicidade.
O medo e a hipocrisia calam os descendentes de D. Afonso, a inveja sucede à hospitalidade, o exibicionismo presunçoso abafa a natural candura do Planalto e a mentira e a intriga vieram suprir a erosão da franqueza, da honra e da palavra dada, palavra de barrosão. A verdade é que, tal como na outra margem sul, também aqui não há hotéis nem indústria nem comércios nem hospitais e, por isso, não merecemos o beneplácito ministerial de qualquer obra de vulto.
Pouco a pouco os milhares de empregos prometidos por um quase transmontano e no qual alguns barrosões persistem ainda, tinhosamente, em acreditar, deixaram de ser um sonho para se tornarem na triste realidade da miséria dos discursos eleitorais.
Ora, na procura de "espantar" a malfadada sorte de já não ter padrinho, desloquei-me, há dias, desde esta Minha Terra de gente em quem eu depositei toda a minha confiança, atravessei a barragem e lá fui eu até à Vila, pois é aí que se concentram as maiores entidades empregadoras do concelho, como na grande maioria dos concelhos do interior deste reino que o Afonso Henriques alargou para sul.
Dirigi-me ao Paço e, abrindo caminho por entre nobres, cavaleiros, escudeiros e homens bons, que àquela hora se acotovelavam para ver quem mais depressa pedia o mata-bicho, no Pólo Norte, e questionei "não sei quem" para que me indicasse onde deveria inscrever-me para o emprego. "O emprego?". Não desisti e, vendo que o interlocutor alcançava a porta férrea com medo de perder dez minutos de mata-bicho, interpelei outro atleta. O "não sei quem" que me respondeu "não sabia de nada". Mais outro "não sei quem" lançou-me, tal e qual, com "um não sei quê", de que é que está a falar?". O emprego era a ilusão do precário estágio numa área relacionada com "a indústria alimentar". Já aborrecida, perguntei a "outro não sei quem" (quer dizer: eu já a vi mas não sei o seu nome) que me ralhou, indignada, referindo que "não havia empregos nem estágios para ninguém".
Decidi, então, ir buscar o Jornal e exibi-lhe a oferta de emprego. Foi então que alguém "que eu sei bem" me disse que esse lugar já estava preenchido por uma candidata de S. Vicente e que se eu queria alimentação era na Fábrica do Fumeiro.
É claro que contestei logo, dizendo que a de S. Vicente ainda nem sequer tinha acabado o curso e que as coisas não me pareciam estar a ser tratadas com a transparência devida.
É que eu apenas queria contribuir para a diminuição do desemprego e não vinha pedir nada, mas exigir clareza nas admissões e igualdade de tratamento …
Pela leitura que tenho feito dos jornais, onde procuro ofertas de emprego, li há poucos dias que só nas terras de Sua Majestade o rei de Espanha já há novecentos mil portugueses que não são contabilizados para a tal taxa de desemprego. Porquê? Porque faleceram num país falido. A morte chegou à rua, precisamente 33 anos depois de nascer o sonho… tal e qual como Cristo.
Por MBM

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