quarta-feira, julho 06, 2011

 

Opinião

BARROSO DA FONTE oferece a Montalegre o seu imenso e valioso espólio

No dia 9 de Junho, o Salão Nobre dos Paços do Concelho de Montalegre tornou-se pequeno para receber as mais de 150 pessoas que ali marcaram presença para homenagear o ilustre barrosão João Barroso da Fonte. Foram muitos os conterrâneos presentes, muitos de amigos de Guimarães e outros amigos que se deslocaram de longe.
O programa iniciou-se com Bento da Cruz a apresentar o livro “A Última Estação do Império” (com a chancela da Editora Âncora), de António Chaves, barrosão de negrões, que versa a Guerra Colonial e a grande amizade entre o autor e Barroso da Fonte (BF). Amizade estreitada no serviço militar e na Guerra do Ultramar, com muita correspondência trocada entre os dois. António Chaves referiu-se a esse tempo partilhado por ambos em termos muito elogiosos.
O primeiro grande momento alto desta homenagem foi quando o ilustre escritor Altino Moreira Cardoso fez o panegírico e traçou o perfil de BF. Fê-lo em tom de oratória invulgar e dum modo magistral cortando a direito mesmo que tivesse de toldar o ego desenquadrado de um ou outro presente.
Falou do tempo da meninice de BF e a seguir elogia o tempo passado no seminário de Vila Real onde se formaram homens de corpo inteiro. Comparou BF a uma “formiguinha” que tem mourejado toda uma vida em prol da promoção do Barroso e de Trás-os-Montes. Mas também se referiu à “cigarra” que ele foi (e é) enquanto poeta e promotor de todos os que poetam, nunca negando o seu jornal “Poetas & Trovadores” a quem ali procura espaço para os seus versos, por mais desconhecido que seja. Referiu-se à coragem deste transmontano que nunca se intimidou quer por ideologias radicais, quer pela gente que quer fazer da cultura uma coutada das duas grandes cidades portuguesas. Por exemplo, criar a Associação de Combatentes do Ultramar em tempo adverso ou impulsionar o “monumento aos Combatentes do Ultramar” só um “Homem, mesmo Homem”, como BF, seria capaz.
Sobre o se dizer “ser de direita ou de esquerda foi uma das mil e uma maneiras que o homem inventou para ser imbecil”, segundo Ortega y Gasset.
Tem tanto de corajoso como de alma sensível e de poeta, compondo, até, a letra da marcha de Codeçoso (a música tinha de ser do Padre Minhava) que com orgulho foi compondo várias versões.
Referiu-se aos muitos escritores e personalidades que escreveram em termos elogiosos sobre a obra de BF, como Castro Gil, pseudónimo de Amadeu Torres ou Pinharanda Gomes. Falou da sua amizade com Miguel Torga.
Elogiou uma vida de luta pelos valores, pela terra e pelas gentes diz Altino Cardoso que, por vezes, é preciso a descida aos infernos para haver libertação.
Terminou a sua eloquente intervenção dizendo que “o homem é do tamanho do seu sonho” e BF sonhou por si, por uma região e pelos valores em que sempre acreditou. Só não tem um nome maior no país porque não vive em Lisboa ou Porto em que se promovem os círculos de amigos como se a cultura nacional fosse uma coutada das gentes destes dois burgos.
BF, a seguir, agradeceu emocionado a presença de tantos barrosões e amigos e fez uma revelação que deu brado, como ninguém alguma vez o terá feito em Barroso e Montalegre, doando ao município que o viu nascer todo o seu espólio documental, artístico e de coleccionador.
Já nos (a nós) tinha confessado essa sua intenção e perante os números em jogo, tentei chamá-lo à razão do senso comum. Porque, com dois filhos, doar um espólio com valores patrimoniais tão avultados requer uma grande reflexão. E BF juntou a família e teve o seu apoio. Depois disto tive que lhe dizer, seja o que for só deve ir para o município para um espaço condigno, tudo já catalogado e com guia de entrega, para não suceder que em algum momento esta ou aquela obra de arte, este ou aquele livro raro, ou esta ou aquela peça de valor seja desviada. Para que não suceda como em Mirandela, que algumas das doações (do livreiro Nuno Canavez) de originais de epistolografia e outras desapareceram sem deixar rasto.
Mas, pelo interesse e entusiasmo manifestado pelo Presidente do Município, Fernando Rodrigues, todo o espólio terá a melhor preservação e conservação. Aliás, a intervenção mais alta desta justa e merecida homenagem ocorreu quando Fernando Rodrigues usou da palavra, em que num longo, sentido (heróico até) e vigoroso discurso em formato de apontamento lavrado pelo seu punho falou de BF. Não é fácil, seja em que coordenadas do território nacional se estiver, ouvir um discurso tão acutilante, como se fosse traçado e cinzelado numa catedral de granito. Usou sempre a palavra certa e com o vigor duma parada militar em tempo de homenagem aos heróis ou para celebração duma grande vitória ou feito, ao mesmo tempo que passava em revista a vida e obra do ilustre filho do Barroso.
Já com uma longa sessão foi esta encerrada depois das 14H00, para se seguir um animado almoço oferecido pelo Município e perto das 16H00 foi inaugurada uma Exposição sobre o seu “Espólio Documental e Honorífico” no Ecomuseu do Barroso – Espaço Padre Fontes. E que espaço cultural o Município de Montalegre tem, já com vários pólos nas aldeias do concelho, assumindo-se como um importante factor de desenvolvimento cultural e turístico das terras de Barroso!(…)
Como disse o Presidente do Município tem que se arranjar um espaço físico condigno para tão volumoso e importante espólio que poderia ser rotulada de “Casa-Museu Barroso da Fonte”. E para o interpretar e explicar ninguém o saberá fazer melhor que o seu primogénito, seu braço direito, e um amante das Terras de Barroso até à medula. Afinal, a doação não é só de BF, mas de toda a família, porque sem o seu consentimento ele não teria praticado tão generosa dádiva porque são centenas de milhares de euros. Dela fazem parte quadros originais de Nadir Afonso ou Graça Morais, entre outros.
Pena é que em cada município de Trás-os-Montes não haja um “BF” e o nosso chão e as nossas gentes seriam olhadas, pelo menos, com mais respeito.
Parabéns ao Município de Montalegre que sabe valorizar o que tem de melhor e ao Barroso da Fonte por toda uma vida de luta e de defesa da nossa região e da nossa gente!

Por Jorge Lage

 

Destaque

Barroso da Fonte agraciado com a medalha de ouro
Depois de ter recebido, há pouco mais de uma década, a medalha de mérito cultural em prata, o escritor e jornalista João Barroso da Fonte - uma das mais proeminentes e combativas figuras da cultura barrosã e trasmontana em geral, com inúmeros títulos publicados sobretudo na área da poesia e dos estudos históricos e etnográficos - foi de novo homenageado pela Câmara Municipal de Montalegre, seu concelho natal, no dia do feriado municipal, 9 de Junho, desta vez com a medalha de mérito, grau ouro. Desta forma, entendeu o executivo voltar a lembrar o trajeto cultural deste conhecido filho da terra.
Da sessão de homenagem constou a presença do Governador Civil de Vila Real, Alexandre Chaves, e a apresentação por Bento da Cruz do livro Última estação do Império (de António Chaves), uma intervenção do Presidente da Câmara e o discurso de exaltação de Altino Moreira Cardoso sobre a figura de Barroso da Fonte. Um almoço-convívio e uma visita ao Ecomuseu, onde se encontra exposto o património literário e honorífico do homenageado, completaram o programa. Durante a sessão, todos os presentes ficaram surpreendidos quando Barroso da Fonte anunciou que, com a concordância da família, legará o seu espólio à Câmara Municipal, avaliado em meio milhão de euros e composto por mais de 18 mil volumes de livros, mais de 100 obras originais de artistas nacionais e transmontanos, como Nadir Afonso e Graça Morais, 200 cartas inéditas, serigrafias, numismática e cartões de grandes figuras mundiais.
Durante os discursos de louvor, todos os intervenientes destacaram a excelsa figura do homenageado, que é maior do que os limites do concelho e da região, e exaltaram a sua produção cultural e espírito justo, solidário e combativo. O escritor duriense Altino Cardoso lançou o desafio: “É preciso ler este homem!”. O homenageado retorquiu que para uma pessoa que nasce para ser pobre e desconhecido, qualquer coisa o alegra. No entanto, a homenagem que lhe foi feita superou as suas expectativas.

BARROSO DA FONTE: Autor de meia centena de livros, em prosa e verso, Barroso da Fonte vive em Guimarães, onde exerceu cargos de responsabilidade, entre os quais diretor da delegação do Porto da comunicação social, vereador a tempo inteiro do pelouro da Cultura do município de Guimarães, diretor do semanário “O Comércio de Guimarães”, o mais antigo jornal do distrito de Braga; esteve entre os fundadores da Rádio Santiago; diretor da revista Gil Vicente, do jornal “Voz de Guimarães” e é, atualmente, diretor do Poetas & Trovadores com mais de 30 anos de vida. Iniciou-se no jornalismo em 24 de Janeiro de 1953, atividade que pratica ininterruptamente.

 

Nº 448








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